quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

INSTRUMENTOS TRANSPOSITORES

INTRODUÇÃO

Caros leitores!

Muito ainda se discute sobre os instrumentos transpositores, e às vezes pode parecer um tanto confuso o porquê de eles realmente existirem, e se há ou não tal necessidade de existir, uma vez que atualmente os instrumentos são construídos para executar a escala cromática na sua totalidade.

A verdade é que para regentes, compositores, editores, arranjadores, intérpretes e todos aqueles que têm contato direto com partituras de orquestra e afins, os instrumentos transpositores e sua notação diferenciada ainda fazem parte do conhecimento obrigatório na rotina desses profissionais.


Mas o que são instrumentos transpositores?

Iremos partir da definição de que um instrumento transpositor emite uma nota (altura definida) diferente daquela que está escrita na partitura. Portanto, se ao executarmos um dó central escrito na partitura, e o instrumento em questão emitir uma nota que não seja o mesmo dó central, pode-se chamar esse instrumento de transpositor.

Os instrumentos que não são transpositores podem ser chamados de “instrumentos em Dó”, não por eles estarem necessariamente afinados em Dó ou terem sido construídos para soar melhor em Dó, mas simplesmente pelo fato de que a escala de Dó Maior não possui nenhum acidente e é considerada, portanto uma escala “natural” ou neutra.

Quando falamos em "clarinete em Sib” ou "trompa em Fá”, subentende-se que o Dó escrito no clarinete soe realmente como Si bemol (2ª Maior abaixo), e o Dó escrito para trompa, soe realmente como Fá (5ª Justa abaixo). Portanto, o Dó é sempre a referência para a definição dos “nomes” dos instrumentos transpositores.


  
  
Exemplo:

O clarinete em Sib soa uma 2ª Maior abaixo do que está escrito, portanto a escala de Dó Maior escrita para um Clarinete em Si bemol irá soar na verdade a escala de Si bemol Maior:




Se quisermos que o clarinete em Sib soe como a escala de Dó Maior, devemos escrever a escala de Ré Maior:



Na escrita da música ocidental, a armadura de clave dos instrumentos transpositores costuma ser ajustada de acordo com a tonalidade da peça. Observe o inicio da 5. Sinfonia op. 67 de Beethoven em Dó menor. O clarinete em Si bemol está com a armadura de clave da tonalidade de Ré menor, ou seja, a tonalidade que equivale a uma 2ª Maior acima:

                         

Apesar da notação transposta ainda persistir, compositores do início do século XX como Schoenberg, Prokofiev e seus discípulos foram os primeiros a tentar abandonar a prática de escrever partes orquestrais transpostas. Veremos alguns exemplos de abstenções desses costumes em posts futuros.


Por que existem instrumentos transpositores?

Cada instrumento transpositor deve ser tratado de forma individual no que diz respeito à sua evolução e utilização no decorrer da história da música ocidental. Basicamente são três fatores que influenciam na utilização da transposição na escrita atualmente.

São eles:

1- Extensão e notação;

Alguns instrumentos como o piccolo, glockenspiel e contrabaixo seriam difíceis de ler/escrever se não estivessem transpostos, uma vez que a notação nos registros originais requereria muitas linhas suplementares. Apesar de estarem em Dó, são transpostos em uma ou mais oitavas para adequar melhor as notas ao pentagrama.

2- Dedilhados em instrumentos da mesma família;

Instrumentos de diversos tamanhos das famílias do clarinete, saxofone, oboé, flauta e trompete, são transpostos para que sejam lidos na mesma clave e com o mesmo dedilhado, mesmo as alturas sendo completamente diferentes. Por exemplo: Um clarinetista que está habituado a tocar um clarinete em Sib, caso precise tocar um clarinete em Mib, não precisará aprender um dedilhado diferente, pois a nota escrita Dó no exemplo abaixo, sempre representará o mesmo dedilhado, o que muda é o instrumento. Isso faz muitas vezes com que os instrumentistas não façam ideia da verdadeira nota que estão tocando, e se prendam meramente ao fato de que a altura da nota escrita funciona como uma espécie de símbolo indicador de um determinado dedilhado.

3- Afinação e timbre;

Instrumentos pertencentes às madeiras como clarinetes e saxofones, foram também construídos em Dó, mas, por questões de afinação, o clarinete em Sib e o saxofone em Mib são até hoje as versões mais utilizadas na música de concerto. Nos instrumentos de metais, a qualidade do timbre prevaleceu mais na escolha do uso dos instrumentos. É o caso da trompa em Fá. Até o século XIX, por não terem válvulas, as trompas eram encurtadas ou alongadas caso houvesse a necessidade de mudança de tonalidade durante a execução musical. Hoje, com o advento desses mecanismos que tornaram possível a execução de toda a escala cromática de forma satisfatória, a trompa em Fá permaneceu por ter um timbre melhor, mais escuro do que outras tonalidades.


No próximo post, falaremos um pouco individualmente sobre os principais instrumentos transpositores utilizados hoje em dia na música de concerto.

Até lá!

Cadu Byington

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